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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dozinho contempla os últimos suspiros do poema de concreto

Autor dos hinos de ABC, América e Alecrim, Dozinho entra pela primeira vez no Machadão


Fotos arquivos web:divulgação
O sol dava a trégua comum do final de tarde, quando a figura de cabelos grisalhos e de caminhada difícil cruzou a portaria do sisudo prédio no bairro de Capim Macio em que vive. Os óculos escuros em tom marrom contrastavam com o pequeno par de olhos verdes, que ao contrário do que indicava o frágil corpo de 83 anos de vida, tinham a vivacidade e destreza de muitos carnavais.

A voz já não tem a mesma potência de anos atrás, mas a segurança em cada palavra traduzia com firmeza a paixão do criador pelas criaturas de estrofes curtas, mas que arrebataram corações de cores distintas e embalaram – e ainda embalam – a festa de milhares nos estádios de futebol do Rio Grande do Norte. E justamente no final de tarde, momento em que os cânticos costumavam ser entoados em comemoração às vitórias ou exibir o orgulho pelo time vítima de um eventual revés, é que o poeta da bola e o poema se encontraram pela primeira vez, depois de anos de um flerte distante, mas que nunca arrefeceu.

Claudomiro Batista de Oliveira, o Dozinho, não é apenas um dos maiores compositores carnavalesco do estado – conhecido nacionalmente –, mas também o criador das canções mais importantes da história das três principais equipes do Rio Grande do Norte. Responsável pela composição dos hinos de ABC, América e Alecrim, Dozinho visitou, a convite da reportagem do NOVO JORNAL, o estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado, o Machadão, que em breve deverá dar lugar a uma nova praça esportiva que receberá os jogos da Copa do Mundo de 2014, a serem disputados no Brasil.

Apesar do local mais parecer um canteiro de obras, o músico se mostrou que estava empolgado com a primeira – e provavelmente única – passagem pelos corredores hoje empoeirados, mas que já serviram de cenário para a história do futebol norte-riograndense ser feita. “Me sinto homenageado em estar aqui. Quantas vezes isso aqui lotado não cantou minha música. A gente tem que render a homenagem e guardar saudades deste belo lugar”, disse com a simplicidade de quem entende o papel icônico da praça esportiva para a história local.

Mas enquanto o Machadão é o efêmero símbolo concreto, Dozinho é o coração do futebol do RN. Apesar de nunca ter sido freqüentador assíduo dos estádios em que o esporte bretão embalava as tardes, o compositor conseguiu traduzir o sentimento das arquibancadas nos hinos de cada um dos representantes da capital potiguar no futebol. O primeiro deles foi feito a pedido dos abecedistas Aldo Medeiros e José Cortez Pereira, este último, governador do estado na época em que o Machadão foi inaugurado.

“Fiz a música em 1960 e gravei em 1962. Foi um pedido de dois amigos e que não poderia deixar de atender. Fui a Recife, procurei o melhor cantor de frevo na época, e consegui. Trouxe o Claudionor Germano, gravamos e ela se tornou um sucesso como hino de clube”, conta Dozinho, nascido no município de Augusto Severo, hoje chamado de Campo Grande, a 265 quilômetros da capital. Meses depois, acabou convidado para compor outra música para o ABC. O resultado foi “Alô Frasqueira”, entoada até hoje nos estádios em que o alvinegro se apresenta.

O sucesso dos versos simples entre os torcedores abcedistas logo lhe rendeu a oportunidade de deixar gravado na história de outros dois grandes clubes do estado o talento para transformar a paixão em música. Tal qual o centenário carioca Lamartine Babo, compositor dos hinos dos principais clubes do Rio de Janeiro, Dozinho acabou por compor as canções-símbolo de América e Alecrim. “Quando surgiu a música do ABC, ouviram, gostaram, acharam que era música forte. Aí vieram os outros convites.” [Leia mais e confira os hinos dos clubes]
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