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domingo, 19 de dezembro de 2010

Antenados e... desorientados


por Jomar Morais

A cultura pós-moderna decretou: é chique ser antenado. Antenado é o indivíduo que está informado sobre tudo o que se passa, aquele que você nunca consegue surpreender com uma novidade, pois ele já viu, já leu e já teclou tudo antes que você. Ser antenado virou sonho de consumo e de status, mas isso contém uma armadilha.

Numa época em que notícias jorram sem parar, através de múltiplos canais, cresce o número de pessoas ágeis em acumular informes, mas permanecem escassas, muito escassas, as que são capazes de uma reflexão mediana sobre a realidade, uma leitura de contexto, um exercício de previsão. Tem-se informação, a comunicação pura e simples de um evento ou de uma experiência, mas não se consegue elevá-la ao patamar do conhecimento, onde o dado isolado aparece em sua relação contextual e com uma intencionalidade. A overdose de informação caótica, aliás, acaba contribuindo para o aumento da perplexidade e da ansiedade, fatores estimulantes de transtornos como o da violência, seja esta uma briga doméstica ou um crime hediondo.

É nesse ambiente de perigosa superficialidade que o jornal e os jornalistas são convocados a intervir, com sensibilidade e talento, em favor da produção de conhecimento – essencial para que tenhamos cidadãos conscientes e participativos - e da própria sanidade coletiva. Não basta imprimir notícias, dar eco a palavras e números. A TV, o rádio, a internet e o celular já nos entregam, a todo instante, montanhas de informações que, mal digeridas, nos deixam um saldo de apreensão e pessimismo. Do novo jornal e do novo jornalista espera-se a perspicácia para distinguir na montanha de dados o que é relevante do que é frívolo e, a partir daí, articular elementos, perceber as relações de causalidade e, sempre que possível, antecipar o que nos reserva a curva adiante. Espera-se um outro olhar, acima e além do senso comum, apto a observar com clareza e a interpretar, apoiado em valores éticos universais.

Na década de 1980, nas reuniões de editores da revista Veja, brincavamos dizendo que se alguém ficasse um ano sem ler os jornalões brasileiros, ao retomar o hábito teria a impressão de que o tempo parara. A glosa esbanjava arrogância, sim, mas a piada tinha seu naco de verdade. As manchetes dos grandes jornais eram sempre as mesmas, mudavam apenas os sujeitos. Não era, porém, o mundo que estava engessado, mas a mente de quem o narrava. De lá para cá, muita coisa tem mudado na nossa imprensa e é alvissareiro que uma equipe de profissionais consagrados se reúna agora neste Novo Jornal com o propósito de fazer jornalismo diário substancioso e consequente. Nós, jornalistas e leitores, antenados ou não, precisamos e merecemos.

*Texto de Jomar Morais publicado em 17/11/2009, na coluna Plural do Novo Jornal
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