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quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Mais um exemplo: o que é ser jornalista no RN

Diário de uma jornalista andante

Lutar e falar o que inquieta meu espírito, sempre!

Por Eliade Pimentel
Jornalista profissional

Parodiando a mim mesma, que escrevi alguns textos com esse título, resolvi relatar os meus anseios de uma “frila” nesse mercado em que as propostas de trabalho ocorrem na forma de “é pegar ou largar”. Com eu sempre levantei a bandeira de independência ou morte, e saí da casa de minha mãe quando nem tinha 21 anos ainda, sei bem o que é viver do jornalismo.

Mas, antes de entrar nas questões de sobrevivência, gostaria de enfatizar que minha carreira de jornalista em Natal é muito pautada pela minha forma atenta de observar tudo, o que incomoda aos chefes, quando deveria ser o contrário (não gostam de repórteres abelhudos, preferem os que escrevem matérias como quem preenche formulários, nesse caso, limitando-se à pauta!). Já fui demitida três vezes de jornais (duas vezes da TN) e não fui admitida em nenhum outro, desde então, porque devo ser “crítica demais” para os padrões atuais de acomodação.

Sou do tipo idealizadora, sonhadora, um tipo de jornalista em extinção, que pergunta, colhe, apura, mesmo quando não está trabalhando para nenhum veículo. Eu costumo utilizar o que observo e o que me incomoda como sugestões de pautas. Estou sempre enviando e-mails e telefonando para redações para dizer coisas do tipo: Meg (TN), a reforma da casa onde funcionou a Setur, na Campos Sales com Mossoró, está parada há séculos, o que significa aquilo? Vamos lá, investigar? 

Ou então, Sheylinha(NJ), conheço uma senhora que precisa receber remédios na Unicat para retardar a puberdade de sua filha, mas ela está esperando a medicação há três meses. Mande alguém lá, por favor, para ver se resolve... Não sou apenas denúncia, sou cultural também, e escrevo sugerindo matérias como algumas dos bailarinos da EDTAM que ganham concursos por aí afora e são desconhecidos e desvalorizados pelo próprio governo o qual eles representam lá fora.

Enfim, sou do tipo que liga para a Caern para falar de um esgoto que estourou em determinada rua, ou questiono o aluguel de uma casa na avenida Hermes da Fonseca, para o governo do estado, um imóvel conhecido como “Casa do Governador”, e que lá nada funciona. Porém, o jornal que eu sugeri a pauta não se interessou pelo assunto porque o patrão é amigo do proprietário da casa, alugada por “apenas” 5 mil reais, conforme me retornaram, portanto, nada de mais para o governo, que deixa faltar até gaze e soro fisiológico para o Walfredo Gurgel.

Confesso que tenho dificuldades para realizar meu trabalho como free-lancer porque tenho muitas atribuições e fica difícil conciliar todas as responsabilidades (aluguel, educação para a filha e todo o resto, além de não ter carro). Às vezes, atraso as demandas, mesmo assim, com todos esses percalços, realizo um bom trabalho, porque tenho mil contatos, boa memória, conhecimento de mundo e sou exigente com a qualidade do material produzido.

Amo escrever, entrevistar, informar, pesquisar e relatar, mas mesmo sendo apaixonada pela profissão, tenho lá meus altos e baixos. Para compensar, gasto boa parte da minha energia na cozinha. Quem me conhece sabe bem que eu me viro de várias formas. Produzo tomates secos, granola, bolos de frutas, realizo pequenos buffets, enfim, nada profissional, embora eu consiga desenrolar um extra como esses afazeres. Foi a forma de não pirar com o jornalismo, que nos deixa de cabelo em pé devido à forma como somos tratados.

Ao notar a diferença da minha energia quando passo um tempo só cozinhando para fora, minha filha (que está com sete anos) me aconselhou a deixar o jornalismo. E diante de minha pergunta, “vamos viver de que?”, ela inocentemente respondeu: “vai fazer bolos para vender”. Ao ouvir essa resposta, meu pensamento me levou ao tempo da ditadura quando as receitas de bolo passaram a fazer parte do noticiário como forma de enrolar o brasileiro sobre a triste realidade do País. Eu mesma achei graça da analogia rápida que fiz.

Aliás, nem precisamos ir tão longe, afinal, o juiz que determinou a queda do diploma nos comparou a cozinheiros, que não precisam de cursos superiores para desempenhar bem suas funções. É tudo uma questão de talento. Não concordando com o contexto, apenas com o texto em si, acrescento: para ser jornalista nessa terra nós precisamos ter um misto de sangue frio, criatividade, perseverança, “fé na vida, fé no homem, fé no que virá”.

E vocês devem estar se perguntando, porque não investir na carreira gastronômica? Por que o jornalismo é um vírus que nos consome o corpo e a alma. Cientes disso, os patrões - que sugam nosso sangue porque nós não sabemos viver sem isso, sem essa doença – surgem com propostas absurdas de retirar conquistas históricas. Mas isso não vai ficar assim não, caríssimos senhores proprietários dos veículos e das agências. Vamos reagir.
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